Elaborado por: Denise Philomene Joseph Van Aanholt
Nutricionista clínica, especialista em terapia nutricional enteral e parenteral pela BRASPEN, especialista em Home Care pela escola de enfermagem da USP (EEUSP)
Suplementação Oral hiperlipídica - Aplicabilidade prática
Algumas situações clínicas demandam alta necessidade calórica e proteica (pacientes oncológicos, pneumopatas, portadores de doenças renais, cardiopatas, sarcopênicos e idosos com risco de sarcopenia) sendo importante não apenas calcular a meta nutricional, mas sim entender qual nutriente está em maior déficit.
Hoje no mercado contamos com uma gama de suplementos industrializados com densidade calórica variada, baixo volume, além de suplementação hiperproteica e módulos que ajudam a atingir as necessidades do paciente, independente de qual nutriente estamos querendo ofertar.
Na literatura é muito fácil encontrar trabalhos científicos informando os benefícios da suplementação oral e, na sua maioria, se prioriza uso de proteína. No entanto, chamo a atenção da necessidade de também avaliar a oferta calórica, que em algumas situações pode ser difícil de ser alcançada pelo paciente apenas pela ingestão de alimentos pela via oral.
Para melhor entendimento, vamos discutir um caso clínico. Paciente do sexo feminino, 75 anos, diagnostico de síndrome do intestino irritável (SII) sendo acompanhada por um gastroenterologista. Foi encaminhada para um médico nutrólogo, que solicitou exames complementares, realizou bioimpedância e foi encaminhada para avaliação do nutricionista em domicílio.
Durante a visita inicial, realizado anamnese e avaliação nutricional. Paciente poliqueixosa, desnutrida grave (perda ponderal importante e gradual nos últimos dois anos), com sarcopenia já afetando funcionalidade, com teste de marcha pouco acima do tempo máximo.
Paciente, apesar de testes de intolerância negativos, referia ser intolerante a vários alimentos, dentre eles proteína do leite, não ingeria carnes, apenas peixe e clara do ovo, e proteína de origem vegetal. Referia ser intolerante ao glúten também.
Como hábito a muitos anos, não fazia uso de açúcar fino, apenas demerara ou preferencialmente mel e açúcar mascavo. Fazia uso de polifarmácia (mais de 10 ao dia), sendo muitos dos medicamentos suplementos naturais sem prescrição do médico e/ou nutricionista.
Após análise e monitoramento de dieta oral por três dias, detectado uma alimentação hipocalórica, hipo a normoproteica e hipolipídica. Inicialmente realizado orientação específica para SII e após melhora dos sintomas, gradualmente realizado aconselhamento nutricional com dicas para melhorar aporte proteico e calórico.
Devido à baixa quantidade de alimentos que conseguia ingerir, não atingia sua meta calórica e proteica. Foi necessário utilização de módulo proteico vegetal e um suplemento oral oral hiperlipídico, orientado de forma fracionada 3 vezes ao dia, sendo junto a medicação da manhã e da noite e uma porção durante a refeição noturna que sempre era uma sopa creme.
Veja que as calorias foram importantes para que a proteína ingerida fosse utilizada para função de recuperação de força muscular e não energética decorrente a baixa ingestão calórica.
Outra situação em que um suplemento hiperlipídico é bem indicado e tolerado, são pacientes renais em tratamento conservador. Estes pacientes têm altas metas calóricas e precisam controlar ingestão proteica e de alguns eletrólitos, e os suplementos hiperlipídicos se encaixam neste perfil e são bem tolerados por estes indivíduos.
Pacientes oncológicos ou pneumopatas, também se beneficiam com suplementos de alta densidade calórica e hiperlipídicos. Como estes suplementos possuem baixo volume e alta densidade calórica, acabam não interferindo no apetite natural do paciente, favorecendo a ingestão de outros alimentos durante o dia.
De tudo que falamos acima cabe ao nutricionista avaliar os hábitos de cada indivíduo, crenças, intolerâncias, e assim definir o tratamento nutricional mais adequado.
Referencias consultadas:
“Oral Nutritional Supplements to Tackle Malnutrition” - www.medicalnutritionindustry.com
Consenso Nacional de Nutrição Oncológica. Instituto Nacional do Cancer Jose Alencar Gomes da Silva, 2ª ed., Rio de Janeiro: INCA 2015.182p
https://saudebrasil.saude.gov.br/
https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/alimentos/suplementos-alimentares
Keenan, GS, Brunstrom JM, Ferriday D. Effects of meal variety on expected satiation: evidence for a ‘perceived volume’ heuristic. Appetite 2015; 89:10-15.
Mullin GE, Fan L, Sulo S, Partridge J. The Association between Oral Nutritional Supplements and 30-Day Hospital Readmissions of Malnourished Patients at a US Academic Medical Center. J Acad Nutr Diet. 2019 Jul;119(7):1168-1175.
Ukovic B, Porter J. Nutrition interventions to improve the appetite of adults undergoing cancer treatment: a systematic review. Support Care Cancer. 2020 Oct;28(10):4575-4583. doi: 10.1007/s00520-020-05475-0. Epub 2020 May 25. PMID: 32451701.
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