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A relação entre o tratamento da Doença de Parkinson e o estado nutricional



Por: Dra. Juliana Tepedino Martins Alves

Médica Nutróloga


A doença de Parkinson (DP) é uma frequente doença neurodegenerativa que evolui de forma crônica e progressiva e é caracterizada pelos quatro sinais motores cardinais: tremores, bradicinesia, rigidez muscular e instabilidade postural. Em sua evolução clínica, outros sintomas como disfagia, disartria, gastroparesia e dismotilidade gastrointestinal vão se tornando frequentes, trazendo impacto direto ao estado nutricional. (1)


Revisão sistemática aponta que a prevalência de desnutrição e risco nutricional são, respectivamente 8% e 35,3%, sendo que a duração da doença, dose diária de levodopa e estadiamento da doença são fatores de risco relacionados as alterações nutricionais nos pacientes com DP. (2)


As mudanças de peso são multifatoriais e envolvem mudanças no gasto energético, perturbação do controle homeostático e comportamento alimentar modulado pelo tratamento dopaminérgico, (3) peça chave no controle da doença.


A perda de peso aumenta significativamente com a prolongação da doença, estágio e gravidade da DP. (4) Desta forma, o monitoramento de peso e a abordagem nutricional devem ser periódicos.


A sarcopenia tem sido recentemente associada a piores desfechos na DP. Uma recente metanálise constatou que a prevalência de sarcopenia foi de 29% em portadores de DP10, destacando que a perda progressiva da função muscular pode aumentar o processo neurodegenerativo, tornando necessário otimizar a avaliação e tratamento da sarcopenia nesses pacientes. (4)


Há relação entre perda de peso e dose de levodopa, sendo que o risco aumenta com doses acima de 6 mg/kg. (5) Essa associação pode ser explicada por efeitos adversos reportados pelo uso do medicamento que podem influenciar a ingestão alimentar como náusea, vômito, dor e desconforto gastrointestinal, diarreia e sensação de sabor amargo. Outro importante ponto de atenção é a interação droga-nutriente da levodopa e as proteínas, pois o fármaco e os aminoácidos competem pelo mesmo mecanismo de transporte ativo no trato gastrointestinal e na barreira hematoencefálica, de modo que refeições hiperproteicas associadas à ingestão do medicamento favorecem esta interação, ocasionando prejuízos de flutuações motoras ao paciente, sendo estas contraindicadas no horário da levodopa.(6,7)


Esses pacientes também podem cursar com hiper-homocisteinemia e devem ter seus níveis de vitamina b12 e folato monitorados, visto que metabolização da homocisteína em metionina requer ambos como cofatores.(8)


A constipação é o sintoma não motor mais frequente e a manifestação de disfunção gastrointestinal mais prevalente em pacientes com DP. Este fato decorre de um processo neurodegenerativo envolvendo o sistema nervoso entérico e a discinesia do assoalho pélvico, associado ao efeito colateral de certos medicamentos para DP como os agonistas dopaminérgicos e anticolinérgicos. Fatores ambientais como reduzida atividade física e hidratação contribuem para o agravamento do sintoma. As estratégias comuns de gestão nutricional incluem o aumento da ingestão de fibras, uso de probióticos e líquidos. (9)


Bibliografia:


1. Alves, JTM el al. Diretriz BRASPEN de Terapia Nutricional no Paciente com Doenças Neurodegenerativas. BRASPEN Journal 37 (2), 2-34

2. Fu J, Li Z, Wang F, Yu K. Prevalence of malnutrition/malnutrition risk and nutrition-related risk factors among patients with Parkinson’s disease: systematic review and meta-analysis. Nutr Neurosci. 2021 Jul 9;1–11.

3. Kistner A, Lhommée E, Krack P. Mechanisms of body weight fluctuations in Parkinson's disease. Front Neurol. 2014 Jun 2;5:84. doi: 10.3389/fneur.2014.00084. PMID: 24917848; PMCID: PMC4040467.

4. Cai Y, Feng F, Wei Q, Jiang Z, Ou R, Shang H. Sarcopenia in Patients With Parkinson’s Disease: A Systematic Review and Meta-Analysis. Front Neurol. 2021;12(March):1–11.

5. Sharma JC, Vassallo M. Prognostic significance of weight changes in Parkinson’s disease: the Park–weight phenotype. Neurodegener Dis Manag. 2014 Aug;4(4):309–16.

6. Poewe W, Mahlknecht P. Pharmacologic Treatment of Motor Symptoms Associated with Parkinson Disease. Neurol Clin. 2020 May;38(2):255–67.

7. Mena I, Cotzias GC. Protein Intake and Treatment of Parkinson’s Disease with Levodopa. N Engl J Med. 1975 Jan 23;292(4):181–4.

8. Xie Y, Feng H, Peng S, Xiao J, Zhang J. Association of plasma homocysteine, vitamin B12 and folate levels with cognitive function in Parkinson’s disease: A meta-analysis. Neurosci Lett. 2017 Jan;636:190–5.

9. Fasano A, Visanji NP, Liu LWC, Lang AE, Pfeiffer RF. Gastrointestinal dysfunction in Parkinson's disease. Lancet Neurol 2015;14(6):625e39.






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