Elaborado por: Médico especialista em Nutrologia pela ABRAN e especialista em TNP e TNE pela BRASPEN, Doutor em Ciências Médicas, Coordenador Clínico EMTNs dos Hospitais Sancta Maggiore em São Paulo e Presidente da BRASPEN biênio 2022-2023
Este artigo de opinião de especialistas apresenta uma breve revisão do potencial impacto do tipo de proteína para garantir o anabolismo muscular durante o tratamento oncológico, o que está associado a melhores desfechos na jornada do paciente com câncer. A fonte de proteína neste contexto é um tema de interesse para pacientes e profissionais de saúde, já que imediatamente ao diagnóstico oncológico, pacientes buscam novas propostas terapêuticas e, modificam totalmente seus hábitos de vida e padrão alimentar, porém muitas vezes, não recebem as orientações assertivas para suportar o tratamento oncológico ativo. Existe um conflito de informações entre padrão alimentar saudável na prevenção do câncer e a oferta dietética durante o próprio tratamento oncológico.
Embora a composição ideal de aminoácidos da dieta para apoiar o anabolismo muscular no câncer ainda não seja estabelecida, as proteínas de origem animal (ex.: ovos, carnes, leite) têm uma composição que oferece um potencial anabólico superior, em comparação com proteínas derivadas de vegetais (ex.: leguminosas, soja). Assim, o artigo fortalece a indicação de manutenção de alimentos de origem animal, e que devem representar a maioria da ingestão de proteínas (em torno de 65%) durante o tratamento ativo do câncer. Uma dieta rica em proteínas vegetais também pode apoiar o anabolismo muscular no câncer, embora exija uma quantidade maior de proteína para cumprir a ingestão ideal de aminoácidos.
O artigo alerta que a tradução das recomendações dietéticas para a prevenção do câncer ao tratamento ativo oncológico pode ser inadequada para sustentar a natureza pró-inflamatória e catabólica da doença. Os autores também pedem atenção especial sobre o início de uma dieta exclusivamente baseada em vegetais (ou seja, vegana), imediatamente após diagnóstico de câncer, dada a presença de necessidades proteicas elevadas e risco de quantidade e/ou qualidade de proteína inadequada para apoiar o anabolismo muscular, especialmente a leucina. A maioria das diretrizes sobre suporte nutricional no tratamento ativo do câncer recomendam uma oferta entre 1,2 a 1,5 g/kg/dia de proteínas, e em algumas situações clínicas, podendo atingir até 2,0 g/kg/dia.
A combinação de aminoácidos sinalizadores de síntese proteica e a sustentabilidade a longo prazo de um padrão alimentar isento de alimentos de origem animal requer uma gestão cuidadosa e laboriosa para pacientes com câncer, e devem ser coordenadas pelo profissional nutricionista. Em última análise, uma composição de aminoácidos dietéticos que promova o anabolismo muscular é obtida de forma otimizada e diversificada pela combinação de fontes de proteína de origem animal e vegetal.
Referência: Ford KL, Arends J, Atherton PJ, Engelen MPKJ, Gonçalves TJM, Laviano A, Lobo DN, Phillips SM, Ravasco P, Deutz NEP, Prado CM. The importance of protein sources to support muscle anabolism in cancer: An expert group opinion. Clin Nutr. 2022 Jan;41(1):192-201. doi: 10.1016/j.clnu.2021.11.032